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domingo, 24 de março de 2013

Velho Boo e Augusto dos Anjos


Ele respondeu:
Se as pessoas pensassem em como deve agir e não agir como pensasse que deve, nós viveríamos melhor Lucas Castro.
Mas senhor Boo, se eu não entendi nada do que disse?
O velho olhou desafiadoramente:
- Ué! Esse não é o garoto que só tira 10?
- "Ânsa!" Eu não tô no sétimo ano não!
- Vou te passar isto, quando achar que consegue interpretar uma frase, você vem e a gente conversa mais sobre seu raciocínio; Senhor Boo abriu um computador portátil e o texto foi salvo em um pendrive e entregue a ele:

[Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos
Fonte: ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1998.
Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://w.bibvirt.futuro.usp.br> A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Texto-base digitalizado por: Francisco de Mesquita Moreira – Rio de Janeiro/RJ
Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para <bibvirt@futuro.usp.br>.
Estamos em busca de patrocinadores e voluntários para nos ajudar a manter este projeto. Se você quiser ajudar de alguma forma, mande um e-mail para <parceiros@futuro.usp.br> ou <voluntario@futuro.usp.br>.
EU E OUTRAS POESIAS Augusto dos Anjos

Do cosmopolitismo das moneras
“Sou uma Sombra! Venho de outras eras, Pólipo de recônditas reentrâncias, Larva de caos telúrico, procedo Da escuridão do cósmico segredo, Da substância de todas as substâncias!
A simbiose das coisas me equilibra.
A alma dos movimentos rotatórios
Em minha ignota mônada, ampla, vibra E é de mim que decorrem, simultâneas,
A saúde das forças subterrâneas E a morbidez dos seres ilusórios!
Pairando acima dos mundanos tetos, Não conheço o acidente da Senectus
-- Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus E a miséria anatômica da ruga!
Na existência social, possuo uma arma
-- O metafisicismo de Abidarma -- E trago, sem bramânicas tesouras, Como um dorso de azêmola passiva,
A solidariedade subjetiva De todas as espécies sofredoras.
A podridão me serve de Evangelho
Como um pouco de saliva quotidiana Mostro meu nojo à Natureza Humana.
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques É com certeza meu irmão mais velho!
Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
Amarguradamente se me antolha, À luz do americano plenilúnio,
Na alma crepuscular de minha raça Como uma vocação para a Desgraça E um tropismo ancestral para o Infortúnio.
Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
Trazendo no deserto das idéias
O desespero endêmico do inferno, Com a cara hirta, tatuada de fuligens
Esse mineiro doido das origens, Que se chama o Filósofo Moderno!
Quis compreender, quebrando estéreis normas,
A vida fenomênica das Formas,
Que, iguais a fogos passageiros, luzem.
E apenas encontrou na idéia gasta, O horror dessa mecânica nefasta, A que todas as coisas se reduzem!
E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
Sobre a esteira sarcófaga das pestes A mosrtrar, já nos últimos momentos,
Como quem se submete a uma charqueada,
Ao clarão tropical da luz danada, O espólio dos seus dedos peçonhentos.
Tal a finalidade dos estames! Mas ele viverá, rotos os liames
Dessa estranguladora lei que aperta
Todos os agregados perecíveis,
Nas eterizações indefiníveis Da energia intra-atômica liberta!
Será calor, causa ubíqua de gozo, Raio X, magnetismo misterioso, Quimiotaxia, ondulação aérea, Fonte de repulsões e de prazeres, Sonoridade potencial dos seres, Estrangulada dentro da matéria!
E o que ele foi: clavículas, abdômen,
O coração, a boca, em síntese, o Homem,
-- Engrenagem de vísceras vulgares --
Os dedos carregados de peçonha, Tudo coube na lógica medonha Dos apodrecimentos musculares.
A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam No espasmo fisiológico da fome.
É uma trágica festa emocionante!]

Luquinha:
“Putisgrila!” Você tá de sacanagem né!? Não vou conseguir ler isso nem a pau! O que é esse negócio aqui em cima?
- Primeiro, não é para ler, é para interpretar. Segundo, preste atenção no que realmente importa e vai saber o que é. E, terceiro e ultimo, o que vai fazer primeiro?
- Vou procurar a palavra interpretar no dicionário.
Risos
- Muito bom moleque! Tem suco natural de maracujá.
- O meu preferido! – o moleque parecia feliz.
- Ah, com o tempo a gente acaba gostando bastante de tudo que gostamos. [Hehehehe...]
- O senhor tá estranho hoje. Deve ser porque hoje não é domingo, eu sei lá!
Senhor Boo pensou: Hoje faz um ano que a minha querida Marta se foi e estou contente por não estar sozinho.

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