Pesquisar este blog

domingo, 29 de janeiro de 2012

Homens invisíveis

Leio adesivos em postes. Reparo nas cores postas em fachada de comércio. Percebo a arquitetura em tom admirável. Critico numa conversa interna detalhes desajeitados, passando pelas ruas. Sinto a umidade do ar, para saber se irá chover. Sento, olho o mar.
Construo em pensamento: tiras bem humoradas do caos a minha volta. Lamento-o em seguida. Mas ainda rio. Estico vozes e torço objetos. Deparo o imperceptível e toco o invisível. Não paro de rir. Deito na areia, o céu está em partes azul com alguns toques esverdeados. O Sol aquece por trás das nuvens, que formam um trem soltando fumaça. Ouço no ouvido o farejar de uma criatura. Logo sua lambida o entrega, é um cachorro. Sorrio e convido a ficar ali comigo.
Fecho a mente e entro num labirinto, mais parecido com uma caverna. Está úmido e quente. Pareço alguém diferente, como se pensasse em códigos estruturais de possibilidades e probabilidades. Um antro da perdição se alastra em minhas idéias. Confunde-me, me joga perdido por horas no vazio. Abro os olhos, faz frio e é de madrugada. Estou com fome. Vou arranjar o que comer. Volto à selva de pedras. Peço ajuda, com minha tática desenvolvida ao longo dos tempos, eles permitem que me alimente. Corpo imundo, não me importo como estou. O mundo é minha casa, a solidão minha amiga e meu vício meu passaporte.

Encontro



Minha imagem reflete no fundo escuro do rio
Ri do penetrante espelho d'água tocando meus olhos
Tremem com a força da emoção
Gélido e pálido, nuance sensitiva
O ar imerso e dormente
Extremos insensíveis
Sons opacos, memórias... Silêncio.
Luz, imagens, confusão, barulhos, vozes...
Vida!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Relatório


Tão fúteis, mesmo assim com sorrisos altivos e condescendentes. A confusão é tentar encaixar em ordem o que estou refletidamente "sentindo", o que estou tentando mostrar, entender, assimilar. Olho para os que estão momentaneamente felizes com o pouco que seus governantes vos dão e imagino como seria a alegria plena dessas criaturas. Desvio um pouco o foco e estou dentro de uma criança... Estou lá, embaixo da mesa, brincando com meus amiguinhos. Onde o mundo se faz apenas dentre as quatro hastes e o pano que nos envolve. Tudo é tão simples, a espontaneidade nas atitudes é traduzida em paz irresponsável e agitação. Voltando os pulsos a velocidade do que  seria normal à eles, e à mim agora, nessa pele estranhamente quente, ouço palavras de agradecimento aos que ali estão. Algo como se fizesse algum sentido a vida, tivesse alguma lógica vinda de toda e qualquer pessoa presente. Sons muito altos com um contexto literário patético, e danças obscenas realçam a alegria dos idiotas denominados humanos. Essa é a felicidade que tanto dizem que sentem então? É assim que esses seres agem em comemoração a suas conquistas na conclusão de uma etapa de sua vida? É essa vergonha que deverei mostrar aos meus semelhantes quando voltar para o meu lugar de origem? Desrespeitam a moral e a intelectualidade de suas crias ao submeterem-nas a tanta irracionalidade assim. Seres ignorantes dominados pelo pensamento da minoria de sua raça, que também demonstra tolice ao deixar inerte os tantos mais de sua espécie. Tamanha é a falta de consciência dos humanos que tomam para si a riqueza que é de todos. Enquanto uns desfalecem por nada terem, estes outros usufruem como donos de todo conforto.
O Homem subverteu insanamente o significado de felicidade por ouro, conquista por ostentação e respeito por imagem.
De muitas coisas que vi na Terra durante essas 12 horas que aqui estive, esta é minha pequena contribuição para as pesquisas de campo da equipe.
Fechando a transmissão.

Distancia


No distante entendimento de um desvio, está o vazio que em algumas horas podemos chamar de dor. Em alguns momentos podemos definir como liberdade. Outros instantes, apenas solidão.
Algo para acalmar o tilintar das gotas de chuva do pensamento. Um solo onde podemos pisar descalços e sentir a umidade da terra batida, sentindo seu cheiro laranja fosco. Visitando com os olhos o gramado vizinho, que está verdinho e macio como as nuvens no céu. Ouvir o ritmo que o vento dá as folhas das árvores e poder mexer o corpo, em profundo consentimento a sua base harmônica. Acompanhar o canto dos pássaros com os pés, batendo-os nos ladrilhos coloridos da loucura. Refazendo, ressaltando e girando até a Terra parar. Até Ela estar em seu domínio. Até movimentá-la como bem entender.
Perceber que tudo está em sua imaginação. Sua forma de participar. Seu jeito de encarar. Aplaudir a natureza. Desconcentrar do lúcido. Sentir... Pousar... Estar.
Depois da curva vemos o que antes era um rabisco. Lá está o amarelo do Sol em tempo real. Aquecendo somente quem teve coragem de deslizar pelas vias do fantástico. Expandindo os reflexos da mente em centelhas de luz, formando mensagens de paz e reconfortando a alma. Refletindo, ecoando e sintetizando todas as vibrações calmantes que a distração positiva pode nos proporcionar. Sigo meu caminho, distante.  

Helton Gouvêa