Pesquisar este blog

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Não se preocupe

 

Não se preocupe se seu cabelo desarrumou, sua unha lascou, o espelho não refletiu, seu batom borrou, seu celular descarregou. Não se preocupe se o uber não te buscou, se o salto quebrou, a bolsa furou, seu vestido apertou e o dia não abriu. Não se preocupe se o boy te largou, levantou a voz, te magoou profundamente, estraçalhou o romance que vivia em sua cabeça. Não se preocupe se seu filho não ligou, não contou para os amigos o quão incrível você é, não postou tbt sentindo sua falta, ignorou sua existência e foi reluzente para a casa do pai.

Não se preocupe se o vazio aumentou nas noites e mais noites com caras diferentes que você embarcou, o prazer da carne saturou, se você foi um objeto, se o orgasmo congelou. Não se preocupe se a saudade apertou, o coração descompassou, o desejo não mentiu, se sua dor passou, se quer voltar a sorrir. Não se preocupe com o roteiro do orgulho, se o cancelamento expirou, a faísca tocou boas lembranças, a memória do coração inflamou, se as cenas pós créditos te alegrou, se outras temporadas estão por vir.

Não se preocupe se o giro insano da vida te renovou, se você levantou e reagiu. Não se preocupe com o cabelo, unha, imagem; se o mundo virtual não curtiu. Não se preocupe em viver o que a razão alertou, a emoção reprimiu, se seu pé recuou, se você tomou distância para saltar descalça. Não se preocupe se você desabrochou, se a terra anda macia, as flores mais coloridas, se o cheiro das coisas toca uma canção. Não se preocupe com o que passou ou o que virá, se vai ou não deixar estar. Se o que importa acontece sem preocupação.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Esqueci que era artista e fui ator

 

Eu poetizava a vida a dois, a três e amar a todos
Não bastava me filmar, me fotografar
Me iludia e a mais ninguém
Só eu sei quem enganava
E sabia que alguém era eu
Nas horas vagas

Devia, sim, romantizar os momentos vez em quando
Assossegava com meus próprios encantos
Quebrava a cara mais uma vez
Já não sabia nada
Nem quem você era
Nem quem era Jubileu

 

Encontrava-me sozinho, a sós e mais ninguém
Formigava minhas têmporas no veneno do ser que enjaulou as emoções
Uma nuvem abrupta tomou meu anjo da guarda pelos braços, deixei de rezar ali mesmo
Traído por mim, despojado nas lágrimas que tocaram as folhas queimadas

E só eu e mais ninguém viu o quanto de vida desperdicei
Não por viver minhas aventuras emocionantes, amorosas e delirantes e tralalá
Sim, por ter em mim a liberdade de me julgar, saber quem eu fui e quem serei
Talvez eu possa ser tudo de uma vez

Mas ser tudo isso cansa
Então vou ser vocês

 


terça-feira, 26 de julho de 2022

Vou sobrevivendo

 Abraçou-me

Uma fração gentil

Antes do fim de qualquer um

Da noção do espaço

Da razão de ser

 

Persistiu em dilúvios

Duas dores daquilo

Na hora do estrago

Coração pela boca

Boca e pulsação

 

Disfarçou retrato

Medo miserável

Salgou a rotina

Dando show pela casa

E o fogo correu na cortina

A cozinha coberta de mágoas

 

A cada toque vazio

Pelo mundo que me quer

Ver o desgosto no contrapasso

Tropeçando no eu e você

Esperando demais o segundo

 

Aquela hora de fazer

Seu minuto

Tempo de acabar

Cultuar o incerto

Onde sou completo

 

Você passou e sorriu

Sem mostrar os dentes

Sabendo onde vai

Deixando cheiro no sofá

Enxergou com os meus olhos

 

E você jamais olhou

Como te olhei

Como jamais sonhou

Deixando um espectro

Condenando-me ali

 

A te buscar num olhar

Num gesto e pesar

No sim que desvali

Na viagem pelas águas

Que nunca esqueci

 

Encontrei o pior em mim

Fiz de nós solidão

Errei a vida

A letra do que dizia

A canção das palavras

Que acreditei agir

E pequei

Não pude evitar

 

A flor que existia

Você nem viu

Eu não plantei

E acreditei florescer

No nosso jardim

Que inventei para mim

 

Vendi minha alma

Troquei por balas

 

Fiquei cego ao sair

Insolação

Cai por terra

E rastejei

Pensei, por que não?

 

Prometi a mim mesmo

A guardar tudo aqui

A jamais dizer quem sou

 

Prender-me em você

Na audácia vazia de ser

Eternamente responsável

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Tente

Da cúpula de sues olhos enevoados
Caio
Falta-me ar
Sei não se pela queda
Pelo medo
Ou pura desistência

Na escuridão do apelo de meu temor
Chovo
Encontra-me dor
A certeza do desforro
Pelo, pelo
Corpo e falência

A seus pés a consequência do erro
Espatifado
Deseja-me vida
A dúvida do levante
Pela angústia e sofrimento
A força do renascimento

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Hoje é o dia que você me esquece

 


Hoje é dia
Tempo de sair
Curtir a vida
Mais dele
Que passa
E não vemos
Sentimos bastante...
é só o momento
70% descontração
No mais, já sabe né?
Hoje é noite
Saindo, enlouquecendo
Você vê a si
Menos de mim
Passando na linha
Cambaleando...
é só o tempo
Outros tantos %
No menos, nada sente!
Um caractere na digital
Na tela
Se falta, ela passa
E nunca mais...
Durante muitos anos
Até que o dia chegue
Novamente

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Remontar

Uma parte de mim que não se esconde 

Que não foge e não teme consequências 

Uma parte do meu eu que só apronta 

Que faz de conta que a vida é brincadeira de mal gosto
Uma parte da conduta que insiste em errar 

Que pra ela o importante de tudo sempre foi bagunçar 


Aquela parte tímida

Que só tem cautela e paciência 

Aquela parte séria 

Que organiza e planeja 

Aquela parte que age 

Que acerta tudo em seu  lugar 


Das partes que monta e remonta meu ser 

Que faz reler, rever e receber dádivas 

Das fugas de mim, aprontando o gostoso da vida 

Que persiste sabendo a mudança que virá


Daquela sagacidade que sentia 

Daquele meu abraço em mim 

Daquilo que faltava encontrar 


Eu já não preciso mais 

As partes que não me servem, as deixei pra trás

E as incompletas aprenderam a se amar... 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

A leve brisa da primavera


Agitação e aquela onda
Bate, margeando azul e lilás
A grande jogada do mar
A corrida e a volta
Em braços e abraços largos
Carregando um pouco de mim
Deixando uma lembrança de si
Prazeres tão simples da vida
Desenhados nas nuvens da memória

Pureza daquela água
Precisa e indecisa
Mas sempre eficaz
Tende a se jogar
A decida em queda fugaz
Tocando sua calma canção
Arremetendo seu desejo
Perdendo-se num instante
Levando as dores do coração