Ele respondeu:
Se as pessoas pensassem em como deve agir e não agir como pensasse que
deve, nós viveríamos melhor Lucas Castro.
Mas senhor Boo, se eu não entendi nada do que disse?
O velho olhou desafiadoramente:
- Ué! Esse não é o garoto que só tira 10?
- "Ânsa!"
Eu não tô no sétimo ano não!
- Vou te passar isto, quando achar que consegue interpretar uma frase, você vem
e a gente conversa mais sobre seu raciocínio; Senhor Boo abriu um computador
portátil e o texto foi salvo em um pendrive e entregue a ele:
[Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos
Fonte: ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro :
Civilização Brasileira, 1998.
Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
<http://w.bibvirt.futuro.usp.br> A Escola do Futuro da Universidade de
São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Texto-base digitalizado por: Francisco de Mesquita Moreira – Rio de
Janeiro/RJ
Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja
alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores informações,
escreva para <bibvirt@futuro.usp.br>.
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EU E OUTRAS POESIAS Augusto dos Anjos
Do cosmopolitismo das moneras
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“Sou uma Sombra! Venho de outras eras, Pólipo de recônditas
reentrâncias, Larva de caos telúrico, procedo Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!
A simbiose das coisas me equilibra.
A alma dos movimentos rotatórios
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Em minha ignota mônada, ampla, vibra E é de mim que decorrem,
simultâneas,
A saúde das forças subterrâneas E a morbidez dos seres ilusórios!
Pairando acima dos mundanos tetos, Não conheço o acidente da Senectus
-- Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus E a miséria anatômica da ruga!
Na existência social, possuo uma arma
-- O metafisicismo de Abidarma -- E trago, sem bramânicas tesouras, Como
um dorso de azêmola passiva,
A solidariedade subjetiva De todas as espécies sofredoras.
A podridão me serve de Evangelho
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Como um pouco de saliva quotidiana Mostro meu nojo à Natureza Humana.
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques É com certeza meu irmão mais
velho!
Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
Amarguradamente se me antolha, À luz do americano plenilúnio,
Na alma crepuscular de minha raça Como uma vocação para a Desgraça E um
tropismo ancestral para o Infortúnio.
Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
Trazendo no deserto das idéias
O desespero endêmico do inferno, Com a cara hirta, tatuada de fuligens
Esse mineiro doido das origens, Que se chama o Filósofo Moderno!
Quis compreender, quebrando estéreis normas,
A vida fenomênica das Formas,
Que, iguais a fogos passageiros, luzem.
E apenas encontrou na idéia gasta, O horror dessa mecânica nefasta, A
que todas as coisas se reduzem!
E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
Sobre a esteira sarcófaga das pestes A mosrtrar, já nos últimos
momentos,
Como quem se submete a uma charqueada,
Ao clarão tropical da luz danada, O espólio dos seus dedos peçonhentos.
Tal a finalidade dos estames! Mas ele viverá, rotos os liames
Dessa estranguladora lei que aperta
Todos os agregados perecíveis,
Nas eterizações indefiníveis Da energia intra-atômica liberta!
Será calor, causa ubíqua de gozo, Raio X, magnetismo misterioso,
Quimiotaxia, ondulação aérea, Fonte de repulsões e de prazeres, Sonoridade
potencial dos seres, Estrangulada dentro da matéria!
E o que ele foi: clavículas, abdômen,
O coração, a boca, em síntese, o Homem,
-- Engrenagem de vísceras vulgares --
Os dedos carregados de peçonha, Tudo coube na lógica medonha Dos
apodrecimentos musculares.
A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos Dentro daquela massa que o húmus
come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam No espasmo fisiológico da fome.
É uma trágica festa emocionante!]
Luquinha:
“Putisgrila!” Você tá de sacanagem né!? Não vou conseguir ler isso nem a
pau! O que é esse negócio aqui em cima?
- Primeiro, não é para ler, é para interpretar. Segundo, preste atenção no que realmente importa e vai saber o que é. E, terceiro e ultimo, o que vai fazer primeiro?
- Vou procurar a palavra interpretar
no dicionário.
Risos
- Muito bom moleque! Tem suco natural de maracujá.
- O meu preferido! – o moleque
parecia feliz.
- Ah, com o tempo a gente acaba gostando bastante de tudo que gostamos. [Hehehehe...]
- O senhor tá estranho hoje. Deve ser porque hoje não é domingo, eu sei lá!Senhor Boo pensou: Hoje faz um ano que a minha querida Marta se foi e estou contente por não estar sozinho.