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sexta-feira, 29 de março de 2013

O estranho na grama




Não é só porque gosto do esquisito que não me identifico com o habitual. Mas o lance é que enjoo rapidamente dos padrões massantes, do que vem escrito em qualquer manual de instruções, numa coisa que não existe porquê morrer em vão. O interessante do raro é que pode ser um normal a cada fração de segundo e vir a ser minha redenção num mundo rotular, este em que pessoas passam quarenta anos pensando nas mesmas coisas. Construindo suas vidas com uma visão em linha reta, ao invés de libertar a energia da alma para que possam sentir, exibir, *extrovertir... Um infinitésimo da essência do cosmo que seja. Não é fácil ouvir todos dizendo que tudo está em seu devido lugar. Mas, os mesmos, os de sempre, não percebem que há lacunas tão previsíveis quanto sua preocupação em melhorar de fato, sem egoísmo. Tento crer na busca pela saída do corredor da morte, ao menos isto me faz bem. A esperança é uma fonte tola se não for para ter outras opiniões sobre o universo e sobre como o convívio está apodrecendo entre nós. 
No entanto, é tranquilo perceber um calmo ser voando, um outro vagaroso sorrindo, um  mais agitado brincando. Mas ainda sim o mundo de plástico polido está ao redor, forçando a entrada dos que estão na grama para respirar o estilo extravagante logo ali. As conexões eminentes podem atingir um nível de união que a lógica conhecida hoje jamais explicará, baseando-se no estável inesgotável em vez do provável temporário. Permita-se ao oposto e aprove a viagem consciente que não pode ser alcançada na caixa em que vive por décadas a fio. Puxe o fio e se toque, apalpe seu rosto, pois é muito esquisito ser igual a todos.    




quinta-feira, 28 de março de 2013

Aderência derrapante









Um campo multiligado ao perigo dos karmas envolventes, atrai o código destemido do justiceiro paralítico. Só precisa vencer a si mesmo, tudo que procura distrai sua paciência resoluta e agouros insistentes desconectam o fio nas vozes acolhedoras do amago prudente e consequente. O que será isto? Politicagem esfarelando desde os contornos mais simples até os alimentos geneticamente modificados, para que o processo glutinador massivo passe pela fase de alienação empática. Eu sou tudo que você precisa, o próximo passo por aí a fora: o outdoor que dá sentido a sua vida, um set de quinze minutos de fama, uma concha de feijão, com caldo grosso, na tigela do haitiano. Leve-me a prova do destino mais absurdo, estarei vestindo um terno azul metálico listrado, em vez de mãos, estarão maletas abertas pregadas ao pulso. Papéis assinados por sete bilhões de pessoas sairão sem parar de lá. Um monte de pacotes invisíveis, possibilitando a vida real no paraíso intocável, extravasando medos ambulantes disfarçados em embalagens indispensáveis. Tenho medo, necessito do horror, um estado puro de deliberação do que é meu, sentido por mim e decidido pela conta do menor, que vale a surdez instantânea da humanidade. Algo insensível demais para me tomar o tempo, mas compra meu comodismo eterno. Deito e relaxo na cama de espinhos venenosos ouvindo o batimento do coração explodir em êxtase, socando o estase com força para dentro da alma. 
Ainda posso tomar um banho, me afogando em suas crenças inúteis, insolúveis condições de história para boi dormir e acordar com uma batina cheia de riquezas filosóficas e pouquíssimos gestos efetivos de carinho. O mundo falece e ele, com sua devoção extremamente benéfica, apenas se senta num banco de madeira, tomando o sangue de quem um dia acreditou. O sacrifício não pode ser mais ofensivo que a vida que levamos. Racionalidade sagaz, animalismo emocional. Conjunção imposta com o intuito da dependência afetiva dos órgãos vitais. A tela, cada vez mais fina, mostra uma beleza modelo inerte, padronizada, em que a pessoa mais sensível, que não conheço, poderia quebrá-la com o batimento de sua bondade, que tanto admiro com olhos espectadores. Pois esta sim, tem a coragem de embelezar o mundo com suas boas ações, totalmente tangíveis.  Simplesmente não vá embora, o verdadeiro amor espera.  

terça-feira, 26 de março de 2013

O estranho


Ele é tão estranho, que o rosto está cinza e caminha por ruas sujas no vento das ocasiões. Quando está gostando não consegue ter mais que uma escolha por vida, passa o tempo sozinho em todas as situações que imagina felicidade ao lado dela. Um sorriso fotográfico esperançoso. É tão confuso, que nada faz para melhorar suas chances e muda a cada trinta segundos de calçada, deixando pegadas para que as casas levem sua mensagem para dentro e as entreguem nos correios com o endereço certo. Mas deseja mesmo que ela as recolha e faça um boneco de gelo em seus sonhos familiares de fim de ano. E escreva: "Agora eu vou, vou tentar ser humano ou serei,  para sempre, somente um andarilho." É tão incomum, que tenta proteger seus olhos dos dela para não revelar sua mente vazia de maldade. Dizem que todos precisam ter coragem de matar os sentimentos dos outros hoje em dia, mas ele só mata o tempo. Não se deixa levar pela versão dos acontecimentos imundos. Vendo o trânsito formar uma onda de andorinhas percebe que os carros estão se movendo normalmente, é apenas seus olhos voltados para o céu ou para o coração dela. Adivinhando onde se esconde seus lugares preferidos, onde se ouve sua voz segredada, aonde vão seus passos impacientes nas tardes de domingo e tudo o mais que tem preguiça de pensar. Nesta ultima noite ficou tão contente com a noticia do jornal pessoal que resolveu estar lá, em algum lugar do futuro, só para ver o que aconteceu com eles dois. Ele é tão simples que disse: "Melhor nunca mais será, daqui pela frente e por todo o sempre, de todos os sempres que nunca mais precisarei viver, pois agora este sempre será sempre nós, eu e a vida."                 

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mendigo da praça



Sinceramente, você desconfia do que está muito na cara? Esses casos "midísticos" aí, empurrando provas tão concretas de tudo, fazendo "valer" a opinião pública e tal. Será que não estão jogando? Quando foi que a opinião pública valeu para alguma coisa? Um exemplo está bem vivo no momento, causando discórdia e movimentando "o mundo" por uma causa já vencida por nós. Quem não concorda são eles, os mesmos que levantam questões esclarecidas, que causam tumulto e o povo abraça a ideia. Esperemos um pouco para decidir se vale ou não dar atenção a tudo que nos é imposto, não? É muito digno lutar pelo que acreditamos, sem problemas, e com toda a lógica que temos. Iremos então solucionar um problema imposto por eles e que nós já estamos cansados de ouvir? 

Acredito que estão brincando com a opinião pública e estamos fazendo o jogo deles. Se queremos tirar o dito cujo dos jornais temos que começar a pensar em todo este esquema que armaram para a gente. E, diga-se de passagem, estão nos fazendo de bobos há muito tempo. Poder ao povo, meu amigo, dê "poder" aos interessados em melhorar e não aos interessados em esculhambar a coisa toda, nos roubar e ainda ficar com aquela pompa engravatada no plenário, que não é pleno, nem limpo, nem inteiro e muito menos completo. Se fosse, este fulano estaria preso de acordo com a lei dos homens. Mas não pense que acredito nela, apenas tento ver o que eles escondem quando não a estão cumprindo, e também penso que são um bando de farsantes. 

domingo, 24 de março de 2013

Velho Boo e Augusto dos Anjos


Ele respondeu:
Se as pessoas pensassem em como deve agir e não agir como pensasse que deve, nós viveríamos melhor Lucas Castro.
Mas senhor Boo, se eu não entendi nada do que disse?
O velho olhou desafiadoramente:
- Ué! Esse não é o garoto que só tira 10?
- "Ânsa!" Eu não tô no sétimo ano não!
- Vou te passar isto, quando achar que consegue interpretar uma frase, você vem e a gente conversa mais sobre seu raciocínio; Senhor Boo abriu um computador portátil e o texto foi salvo em um pendrive e entregue a ele:

[Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos
Fonte: ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1998.
Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://w.bibvirt.futuro.usp.br> A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Texto-base digitalizado por: Francisco de Mesquita Moreira – Rio de Janeiro/RJ
Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para <bibvirt@futuro.usp.br>.
Estamos em busca de patrocinadores e voluntários para nos ajudar a manter este projeto. Se você quiser ajudar de alguma forma, mande um e-mail para <parceiros@futuro.usp.br> ou <voluntario@futuro.usp.br>.
EU E OUTRAS POESIAS Augusto dos Anjos

Do cosmopolitismo das moneras
“Sou uma Sombra! Venho de outras eras, Pólipo de recônditas reentrâncias, Larva de caos telúrico, procedo Da escuridão do cósmico segredo, Da substância de todas as substâncias!
A simbiose das coisas me equilibra.
A alma dos movimentos rotatórios
Em minha ignota mônada, ampla, vibra E é de mim que decorrem, simultâneas,
A saúde das forças subterrâneas E a morbidez dos seres ilusórios!
Pairando acima dos mundanos tetos, Não conheço o acidente da Senectus
-- Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus E a miséria anatômica da ruga!
Na existência social, possuo uma arma
-- O metafisicismo de Abidarma -- E trago, sem bramânicas tesouras, Como um dorso de azêmola passiva,
A solidariedade subjetiva De todas as espécies sofredoras.
A podridão me serve de Evangelho
Como um pouco de saliva quotidiana Mostro meu nojo à Natureza Humana.
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques É com certeza meu irmão mais velho!
Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
Amarguradamente se me antolha, À luz do americano plenilúnio,
Na alma crepuscular de minha raça Como uma vocação para a Desgraça E um tropismo ancestral para o Infortúnio.
Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
Trazendo no deserto das idéias
O desespero endêmico do inferno, Com a cara hirta, tatuada de fuligens
Esse mineiro doido das origens, Que se chama o Filósofo Moderno!
Quis compreender, quebrando estéreis normas,
A vida fenomênica das Formas,
Que, iguais a fogos passageiros, luzem.
E apenas encontrou na idéia gasta, O horror dessa mecânica nefasta, A que todas as coisas se reduzem!
E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
Sobre a esteira sarcófaga das pestes A mosrtrar, já nos últimos momentos,
Como quem se submete a uma charqueada,
Ao clarão tropical da luz danada, O espólio dos seus dedos peçonhentos.
Tal a finalidade dos estames! Mas ele viverá, rotos os liames
Dessa estranguladora lei que aperta
Todos os agregados perecíveis,
Nas eterizações indefiníveis Da energia intra-atômica liberta!
Será calor, causa ubíqua de gozo, Raio X, magnetismo misterioso, Quimiotaxia, ondulação aérea, Fonte de repulsões e de prazeres, Sonoridade potencial dos seres, Estrangulada dentro da matéria!
E o que ele foi: clavículas, abdômen,
O coração, a boca, em síntese, o Homem,
-- Engrenagem de vísceras vulgares --
Os dedos carregados de peçonha, Tudo coube na lógica medonha Dos apodrecimentos musculares.
A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam No espasmo fisiológico da fome.
É uma trágica festa emocionante!]

Luquinha:
“Putisgrila!” Você tá de sacanagem né!? Não vou conseguir ler isso nem a pau! O que é esse negócio aqui em cima?
- Primeiro, não é para ler, é para interpretar. Segundo, preste atenção no que realmente importa e vai saber o que é. E, terceiro e ultimo, o que vai fazer primeiro?
- Vou procurar a palavra interpretar no dicionário.
Risos
- Muito bom moleque! Tem suco natural de maracujá.
- O meu preferido! – o moleque parecia feliz.
- Ah, com o tempo a gente acaba gostando bastante de tudo que gostamos. [Hehehehe...]
- O senhor tá estranho hoje. Deve ser porque hoje não é domingo, eu sei lá!
Senhor Boo pensou: Hoje faz um ano que a minha querida Marta se foi e estou contente por não estar sozinho.

♪ Someone... Didn't wanna know their name... Drifting ♫ (Sr. Boo)



♪ Someone... Didn't wanna know their name... Drifting ♫

Tirou o fone, apertou a campainha. 
Senhor Boo abriu a porta e apareceu.
- Ora, bom dia Luquinha! O que deu nessa sua cabeça de maluco vir aqui essa hora da manhã?
- O que o senhor pode fazer para que a gente possa ter mais segurança no bairro? Esses dias o Paulão da Borracharia foi assaltado. 
- Entre, entre. Vamos tomar um café, ou você prefere chocolate quente?
- Quero frio.
- Tá certo... ...Vamos ver, o que você faria para tornar o bairro mais seguro Luquinha?
- Eu daria uma arma para cada morador e licença para matar os ladrões.
O velho achou graça.
- Olha, não seria nada mal essa ideia viu?! Se não fosse pelo que manteríamos em nossa sociedade. 
- O que é sociedade?
- Sociedade é um grupo de pessoas que convivem juntos e fazem o melhor possível para se manterem em um determinado lugar. Essas pessoas tem seu próprio jeito de resolver as coisas, o que pode estar ligado a cultura, a imposição de leis ou outras coisas mais. Mas leis foram criadas para cuidar do que o homem não quer melhorar. Por exemplo, sabe aquelas estradas que tem limite de velocidade? Então, nós não queremos melhorar o meio de transporte, torná-lo mais seguro, entende? Veja bem Luquinha, nós poderíamos tirar todas as placas e fazer com que nossos carros não saiam da pista. Temos essa tecnologia hoje e poderíamos desenvolvê-la bem mais, mas essa já é outra história. Também poderíamos acabar com a gasolina e usar energia solar, outra coisa que o homem não quer melhorar. 
- Oloco senhor Boo, quer dizer que o que a gente fala que é sociedade, só que na verdade não fazemos nosso melhor para nos manter aqui?  Porque o senhor disse que eles fazem o melhor para ficar em um lugar, e a gente não tá fazendo isso. Tá deixando a borracharia do Paulão ser assaltada. To falando que a gente tem que ter arma.
- A gente chega lá, calma aí que já te falo o porquê de não termos arma, pirralho.
- Sai fora! Mas beleza, continua o que tava falando.
- Como disse, a cultura também interfere na forma da gente resolver as coisas. Nós vivemos numa sociedade machista, e antes de você perguntar já explico, sociedade você já sabe o que é, agora sociedade machista é o seguinte: antes só nós, os homens, podíamos trabalhar, votar e um monte de outras coisas mais. Nós mandávamos e desmandávamos no mundo, e isso faz parte da nossa cultura no geral. Até aí conseguiu acompanhar o que tô dizendo?
- Não direito, você tá contando que a gente mandava no mundo e é por isso que todo mundo pensa que pode sair com uma arma para roubar?
- apontando para Luquinha e piscando um olho: Você tá quase lá Luquinha, quaaase lá. Com esse sentimento de que nós podemos controlar o mundo, a gente mostrou ao longo da nossa história que tomamos aquilo que queremos e quando queremos, seja pela inteligência ou pela força. 
- Ah, agora tô entendendo senhor Boo. Você tá falando que o homem que assaltou o Paulão seguiu nosso próprio exemplo, tá falando que ele foi, tipo, um cara que a sociedade machista fez. 
- Bom, podemos dizer que sim. Mas também há a questão da violência. Sabe, o governo faz com que haja violência para que eles possam ter motivo de aplicar as leis.
- Ué, você disse que eles criam leis para coisas que não querem melhorar. Então quer dizer que também não querem melhorar nossa segurança?
- Exatamente Luquinha, eles também não querem melhorar nossa segurança. 
- Mas por quê? Por quê? Como são idiotas! Nossa, a gente tá perdido assim!
- Calma, podemos resolver algumas coisas antes de estarmos completamente perdidos.
- O que você tá falando?
- Ainda podemos educar nossos filhos para que a humanidade tenha um futuro melhor, porque os verdadeiros interessados nisso somos nós. 
- Eu nem tenho filho!
- Falei no sentido figurado menino. Olha, se você puder melhorar alguma coisa no bairro a gente pode começar a mudar nossa cultura. Um olhando o outro e respeitando também, é disso que tô falando. Se você pode mudar, nós podemos melhorar. Enquanto você continuar o mesmo, já sabe que seremos os mesmos, certo?
- Beleza, já entendi que não precisamos ter armas e sim, mudar a nossa forma de pensar e agir, para que nossa cultura também mude. E isso vai ajudar todo mundo, até que o Paulão nunca mais seja assaltado. 
- Garoto esperto! Bom, hoje é domingo e tá na hora de cuidar das minhas plantas lá fora. 






sábado, 23 de março de 2013

Acidente na estrada



Aquela parte do outro que não sabe se é sua ou aprendeu a ter. Um filme, uma música no final, livros e passagens de ônibus. Uma estadia demorada. Levou só a roupa do corpo pensando em voltar no mesmo dia. Riso, simpatia e piquenique, só alegria. Cartas queimadas, resposta escrita no vento, o ar pesado e escuro da fumaça que respirava. Foi direto para a sala de cirurgia. “Ah, não há nada que possamos fazer com este aqui. É o famoso caso de adoção cancelada e parada indutiva de afeto. Pensa que está mal, não sabe que quem fará a operação será ele mesmo. – riram então.”

sexta-feira, 22 de março de 2013

Sr. Boo e Luquinha




♫ …
M-m-m-my Sharona... M-m-m-my Sharona
O garoto cantarolava: Tãrãntãn-tãn Tãn-tãn Tãn-tã-nã-nã.
Tirou o fone:

- Senhor Boo, o que podemos fazer para mudar o mundo?
- Ah, que praga é essa?! Seu merdinha! – Ele estava com uma lupa vendo algumas folhas de plantas do seu jardim. - Isso é muito difícil de saber, existe um espaço gigante entre a mudança que vocês querem e a mudança que o mundo pode aceitar. E também há uma grande diferença entre conhecer o caminho e caminhar pelo conhecimento. Mas eu sei, eu sei sim. Você nunca entenderia mesmo que eu explicasse um montão de vezes.
- Ahhh Senhor Boo, conta aí vai! E merdinha é seu nariz de palhaço! Eu sou muitíssimo inteligente! O mais esperto da sala. Só tiro 10.
- Ah, é?! Tira 10 em todas as matérias?
- Tiro, em todas! - Sr. Boo meneando a cabeça e apertando os olhos:
- Não olha nenhum pouquinho na prova do colega? Nem para tirar as dúvidas?
- Ah, só uma vez né?! Ele também já fez isso na minha, o Rafi10!
- Tá certo, tá certo. Comece mudando por aí, Luquinha.
- Mas ele olha também! Nem vem que o senhor já olhou na prova de um amigo seu naquela época que eu sei! Sr. Boo: Antigamente os professores batiam na gente e eu era mais ingênuo que você é, como você mesmo disse antes, é muito inteligente e vai entender, não é Luquinha? - Luquinha deu para pensar um pouquinho.
- É, sou mesmo! Antigamente eu também seria!
- Pois então, pense bem rapazinho, se vocês estudassem juntos e discutissem tudo que aprenderam antes, não seria melhor que precisar olhar na prova um do outro?
- Não sei, nunca fizemos isso antes. Mas acho que o senhor pode ter razão sim. Porque daí nós teríamos tudo na cabeça já e saberíamos tudo que o outro também sabe e...tive uma ideia! Podíamos chamar um monte de gente para estudar também! Aí o professor não ia mais implicar comigo e nem com o Rafi10. Mas é que a gente brinca no tempo livre, o senhor também brincava naquela fábrica abandonada que eu sei.
- Você conhece mais de mim do que imaginava. – disse o Sr. Boo.
- Os carinhas lá da escola sabe que o senhor inventou a máquina de atirar bolas de bexiga com água, e funciona até hoje! Mas agora a gente não pode mais brincar com ela, porque virou do museu da escola e a chata da diretora não libera nenhum pouquinho para gente.
- É mesmo? Que interessante! Então inventem algo novo! Ou você tá achando que eu posso fazer a diretora Maria Schwartz mudar de ideia, e deixar os pirralhos voltarem a usar a Morteiro Bexigosa?
- Morteiro Bexigosa?! Ahaha...vou contar o nome para o Rafi10. Mas o senhor faria isso? Vai falar com a diretora Maria Chumaço? Sr. Boo tirou o chapéu, coçou a cabeça e disse:  Não consigo pensar em outro motivo para um peste como você vir até minha casa, numa tarde de domingo, e me torrar a paciência. – rindo e bagunçando o cabelo do garoto. (Eles detestam isso) - Para, para! – o garoto deu um passo para trás.
Senhor Boo:  Vamos fazer um trato então. Você reúne um grupo de estudos para entender como uma máquina de atirar bexigas funciona e eu converso com a Sra. Schwartz. Mas olha lá, não prometo que ela vai concordar comigo hein!
- Beleza, velho! O senhor sabe que é velho né?! – riu e saiu correndo, enquanto os colegas estavam escondidos na curva da esquina. O Sr. Boo também riu, tirou o chapéu de novo e ameaçou a jogar nele.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Criança moderna



Traga o ar soltando bolinhas de sabão. Todos seus amigos estão caídos, presos ao chão, lambendo o detergente e sedentos por mais. Vendo as borboletas invisíveis carregarem alguns que estão muito mal, estão moles como mingau, parecendo plástico derretendo, igualzinho a um carrinho pegando fogo, ele é dado como louco na fila do hospital. Não prestam nenhuma atenção, nem mesmo que estão presos e lambendo os outros, por mais e mais vezes, sem parar, continuam ignorando, desejando o que o outro tem. 
No parquinho ele brinca sozinho, seu balanço preferido é o vermelho. Mas logo se cansa, pensando que alguém realmente deveria compreendê-lo, ou se alguém realmente deveria compreendê-lo. Os bosques estão morrendo sem crianças para protegê-las. Alguém está matando os bosques e construindo celas em seu lugar, umas acima das outras, umas mais atraentes que outras, porém, sem direito a visitas e nem hora para brincar. Então ele se fecha na tela de duas polegadas que brilha sem parar, com um fone de dez pés na cabeça, anda até a lojinha de gibis e compra cigarros para experimentar. Acha todo mundo mal humorado e retribui jogando sacos de bosta na porta de casas, mas não sem antes apertar a campainha. Está tão só que brinca com a própria sombra. Chora tanto que as lágrimas transformam-se em correntes, arrastando no asfalto. E para se divertir pede para sua única amiga que o prenda no chão, ao lado de uma barra de sabão.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A casinha do Sr. Boo


Um natal azul-acinzentado. Simplesmente a arvorezinha de natal está um caos, toda remendada com fita crepe e as bolinhas parecem mais pálidas a cada verão. As crianças não costumam mais passar aqui para tomar aquele chocolate quente que fazia, e que as faziam sorrir. Toda noite as águas caem pesadamente sobre o telhado, o clima esfria um bocado. Ah, arrumei a goteira da garagem - Cof! Cof! Cof!. É melhor eu ir pegar um agasalho e calçar meias de lã. O noticiário avisa que devemos tomar cuidado com os bandidos que estão soltos nesta época do ano. Nunca entendi porque diabos estes canalhas, e quando digo canalhas me refiro a Secretaria de Segurança, enfim, porque cargas d'água soltam esses criminosos. Droga! São todos farinha do mesmo saco!
- É-hé, é-hé! Bom, deixe-os para lá. Ainda tenho a velha espingarda que pertenceu ao papai, e antes dele ao vovô. E antes deles, ao xerife Tugou. Aquele velho ranzinza de uma figa!
Fiz aquele balanço na varanda, sento nele algumas noites menos frias para lembrar algumas de nossas conversas mais bobas. - Hehe. Mas também lembro de muitas outras coisas, é claro, é claro. A chaleira está apitando, é hora do nosso café da tarde querida. Você nunca gostou do seu café frio, e nem do pé. Oh, como os esquentava para você. Naquela viagem você me fez parar o carro no meio do nada, só para pegar suas meias no porta-malas. Que perigo! Os jovens não sabem mesmo pensar que coisas ruins podem acontecer, não é mesmo?! Acabamos descobrindo que dali dava para ver a cidade ao longe, com suas luzes parecendo estrelas numa festinha, lá embaixo. E os céus?! As luzes de lá, como mães a vigiar seus filhos. Imensa escuridão, e ao mesmo tempo aquela manifestação esplendorosa do universo, mas parecendo que só existia um brilho que me importava em toda parte - olhos marejados. 
Chega de papo furado, vou me ajeitar no quarto, pois parece que esta noite está mais fria que todas as outras. Hoje o clima foi de natal americano, um friozinho mágico com prisma futurístico num mundo antigo. Talvez consiga sonhar com nossa casinha aí do outro lado. Quem sabe não posso dormir com você esta noite.   

sábado, 16 de março de 2013

Fábrica de tijolos amarelos


Oh, dei ouvidos para todos eles e estão querendo que jogue no time vencedor. Perdi a estrada de tijolos amarelos, mas tudo bem, tudo vai ficar melhor, você vai ver. Competindo posso sentir o tempo que estão roubando, com a proposta de ganhar minha vida, com a fantástica ideia de que poderia ser mais do que uma moderna criança. Mas o relógio bate minha criatividade, com seus tic-tacs parecendo um mineiro impetuoso. Acabo esquecendo a emoção do que foi um dia sentido, se um dia teve sentido, se sentir é mesmo a solução. Onde está você diante disso tudo? Quero te provar que agora sou bom no que faço, uso um terno de cem mil vidas e entendo de gráficos desiguais. Eles tinham razão, ainda não sei bem por quê. Deve dar para notar pelo menos, eles estão lá dentro aplaudindo, fazendo festa com comes e bebes, o saguão está lotado e podemos multiplicar cada vencedor por cem mil. Podemos compartilhar nossas alegrias  sem pensar no amanhã, sim, nós certamente temos motivos. Vamos marcar uma reunião, um encontro num café, para discutir sobre a fábrica de chocolate. Ah, tão doces chocolates! Percebi que sempre quis ser feliz assim. Estou diante de um garoto, ele tem algo de muito estranho, não consigo identificar direito, de algum modo parece que já olhei com seus olhos. Mas não importa, vamos falar de jogar no time vencedor garoto?          

quarta-feira, 13 de março de 2013

Diga adeus ou não diga nada



Meio-dia, e meio, meia-noite, zero hora. Estou no mesmo lugar de ontem, agora e hoje. Continuo na caixa, desta vez foi por escolha. Deve ser o costume, sua voz que badalou no silêncio de repente. Antes pensava seguir para onde quisesse, no momento estou aqui refletindo, e amanhã saberei me adiantar. Estranho é poder enxergar no escuro o que faltou, transportando-me feito mercadoria, devolvendo o presente que roubou. Chegou, parou, abriu e carregou. Desta vez fui intencionalmente, simultânea complacência comodista agarrando-se ao outro. Tentativas exaustivas remontando o desencaixe, chance por erro, abraço e dissentimento, toda forma de poder transtornando o carinho, transbordando intranquilidade pelo caminho. Desejando um novo começo com a mesma sensação presa na garganta, inflamando a sugestão de que não há mais para ser, chegou ao seu fim.
Faz dias que não durmo direito... Boa noite, vou me deitar.
Naquela direção vaga, embaçada, mórbida... Já não está aqui. Vou aonde um lugar me leva, flutuando na bruma dispensada pela trégua do mundo. Só o passado molhando e esfriando o as dimensões, ainda não aconteceu o melhor. Também não me sinto presente. Desaparecendo e perdendo-me no que se foi, na fenda que corta dois planos sensíveis ausentes. Hoje, a noite, agora, ao acordar, ontem, pensei em você o tempo todo. São olhos no abismo instigando correntes de ar e fogo expostos, pulso frágil, o que me faz fluir.
Parado na encosta íngreme, sensações vertiginosas de um sorriso, de uma emoção sem igual na planície da lembrança. 
Simpatia suplantada e incandescente gritando aquilo que talvez nunca saberei, acariciando o que talvez seja inquietude compassiva. Soando cordas curativas, renunciando o máximo de sua ousadia, sustentada na superfície pragmática e gélida da opressão fatídica. Consentimento duplamente contraditório desejando uma incrível felicidade, jogado no seu discernimento; enfeite do egoísmo solidário, praguejando consigo mesmo o quanto poderia ter sido. Sim, não há dúvidas disso, acabou.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Somos o planeta



Você consegue entender a lógica? Imagine juntar lixo em casa: nos quartos, banheiro, cozinha e sala. Sinta o cheiro, veja a sujeira, ouça as moscas e experimente o gosto de qualquer refeição. Quando rejeitar esta imagem da mente cuidará mais de casa? Não? Minha casa é limpa, não é? Cuido para que não haja este tipo de desconforto, certo? Tudo bem. Como está a casa ao lado? Como estão as cidades, os estados, os países, as nações? Não há distinção, somos o planeta. Se pudéssemos ter energia infinita em casa, seria agradável? O que me diz da energia solar, eólica, geotérmica e das ondas dos mares? São mais viáveis que o petróleo em todos os sentidos racionais? São agressivos ao meio ambiente? Procure conhecer. Agimos racionalmente?
Pensemos em água abundante em casa. O que calcular das pequenas nascentes, dos grandes rios, dos oceanos? Água do mar não conta. Não temos conhecimento tecnológico para torná-la potável? Será que esta utopia já foi alcançada?
Sabe aquele mal-estar que não sabemos de onde vem e nem como vai? É quando temos que ir ao posto médico marcar consulta. Demora muito para sermos atendidos? Quanto tempo corre até ficarmos bem? Mas antes disso, até chegar a este ponto, sabemos por que precisamos nos tratar? Ah, o médico vai ver, não é?
Vamos supor que em casa temos uma espécie de mecanismo diagnóstico com leitura biogenética, proporcionando a máxima rapidez em qualquer ocasião adversa. Com isso, quero dizer que se em casa tivéssemos um médico disponível o tempo todo. Melhorou comparado ao sistema atual de saúde? Mas isso é realmente possível? O que é real, se não nossa capacidade de fazer o bem?! Quem está ajudando quando se trata de vida? Quem se preocupa em criar soluções efetivas para o bem-estar da população mundial?
Política, ciência, religião, indústria, educação, comunidade? O que precisa ser desenvolvido para alcançarmos o extremo imaginável do bem-viver? Nossa mente, corpo e alma? É complicado chegar a um consentimento com tantas interpretações de tudo que existe? Talvez refletir sobre esta máxima possa ajudar: somos o planeta.
Continuemos o raciocínio à nossa empática moradia. Sim, quero que você tenha tudo do melhor, o máximo de conforto e o principal, uma vida: de ideias e conquistas relevantes. Será que desse jeito, simples, tudo se encaixará? Posso ter uma mente desbloqueada? O planeta em que vivo me permite ter a cabeça leve? Livre de ideais e mais próximo do que posso aplicar? O planeta vive em harmonia sem a presença de humanos? Até quando os humanos suportarão o desequilíbrio ecológico?
Os “poderosos” com controle irracional não podem te oferecer mais do que ilusões, utopias e folclores. Em troca de quê? Você está sendo direcionado aos padrões consumíveis e críveis? Está sendo programado para consumir de forma destrutiva ou preservativa? O que eles querem? Estão te induzindo à crença cultural, reativa, criativa, efetiva ou afetiva? Ninguém te oferece o que você já possui. Eles estão te comprando com ouro e promessas?
Se vivemos intensamente alegres, por qual motivo precisaríamos de “propaganda da verdade”? Deixe-me explicar ou tentar justificar? Quando você está feliz com o desempenho e segurança de um veículo, com toda a possibilidade de funcionamento ecológico, há necessidade que alguém te diga o que te faz bem? Se este transporte te conforta, te deixa seguro e não causa nenhum mal ao seu mundo, por que existiria propagação alarmante dessa causa óbvia? Por que concordar com toda essa sujeira? Lembre-se da casa limpa. Precisamos mesmo da incoerência nos informando sobre o que é melhor para nossas vidas? Você não sabe? Rapidamente, o que somos? Ainda não está claro? Pois bem, sim ou não, somos o planeta. E mais! Espera aí! Como assim, mais? Se o planeta é o todo de partes e partes de um todo, o que somos? A lógica nisso tudo, sem cogitar qualquer semelhança especulativa. Sem deixarmos influenciar pela mítica divina e corrosiva dessa ganância imunda.
Atualmente somos a cria, o intervalo corruptivo do ecossistema, o teatro persuasivo da mente inescrupulosa; a morte da criatividade, do conhecimento, da evolução tangível. Somos a estória de terror, vendendo conto de fadas. O figurante de um roteiro escrito pelo monetarismo, trama em que o dinheiro atua como diretor e o ator principal é a ostentação vulgar. Somos a hipocrisia em cadernos escolares, nos livros de história e nos anais retrospectivos. A música torpe, pobre e grosseira da moda insolente; depreciando o mais alto nível de artes existentes à preço de integração social. Somos o animal selvagem com máscara humanoide. A liberdade contrabandista de uma sociedade ingênua. O uniforme da vergonha, da discórdia, da apatia e da imoralidade. Contudo, ainda sim, por mais que seja difícil aceitar, somos o planeta.  

sexta-feira, 8 de março de 2013

Deixa



O espectro no espetáculo envaidece quando a alma jaz pano de fundo

Disco-mundo rodopia zonzo por aí e nada faz o engano disfarçar
A inveja ensandecida pega pelo braço num vulto-traço colorido veloz
Abaixo, amassado pelo desprezo criado na vertente impotente do voraz
Colhida resposta, amarga, desce quente sem querer parar no submundo ocular
Sorriso prudente subindo viela, cumprida a balada do desdém 
Se tu sentisse culpa, não tocaria em mais ninguém